Oiapoque recebe a I Feira Itinerante de Produtos Indígenas

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Além de proporcionar um espaço de comercialização da produção indígena no município, a feira itinerante contribui para a visibilidade, soberania e segurança alimentar dos povos indígenas da região

Na Semana dos Povos Indígenas, entre os dias 16 e 17 de abril, o município do Oiapoque recebeu a I Feira Itinerante de Produtos Indígenas, onde mais de 20 produtores indígenas das regiões do Rio Uaçá, Urukawá, Curipi, Oiapoque e BR156, comercializaram uma variedade de produtos da agrobiodiversidade e artefatos dos diferentes povos da região. Além da farinha de mandioca e seus derivados (tucupi, tapioca, goma), mercadorias de maior destaque na feira, outros produtos, como mel, óleos vegetais e tinturas naturais, foram vendidos em menor escala.

A Feira Itinerante de Produtos Indígenas nasceu de uma demanda antiga dos povos indígenas de Oiapoque por um local próprio para venda direta de seus produtos no município. Ainda que estes povos sejam responsáveis por grande parte do abastecimento de farinha e outros produtos da agrobiodiversidade no município, não há na cidade um local específico e adequado para que os produtores possam comercializar diretamente seus produtos, o que os deixa sujeitos à atuação dos comerciantes intermediários que revendem os produtos e acabam por estabelecer os seus preços. Essa problemática vem sendo apontada desde o Plano de Vida dos Povos Indígenas do Oiapoque (2009), e foi pauta das assembleias e reuniões que discutiram formas para melhorar o escoamento e comercialização da produção indígena. Algumas iniciativas já foram realizadas para solucionar esse problema, mas poucas obtiveram sucesso.

Em 2018, os Agentes Ambientais Indígenas (AGAMIN) discutiram esta temática no âmbito da sua formação e realizaram uma pesquisa em suas aldeias sobre as variedades cultivadas nas roças indígenas e também um balanço dos produtos (contabilizando as quantidades e os preços) vendidos do município de Oiapoque e Saint Georges (Guiana Francesa). Somado a isto, em janeiro de 2019 realizaram uma pesquisa de campo no mercado municipal do Oiapoque na qual analisaram os preços que os comerciantes revendiam seus produtos e também a forma como eram apresentados, diagnosticando que eles perdiam a especificidade indígena e que eram vendidos, na maioria das vezes, acima do dobro do valor pago aos produtores. Ademais, durante a conversa com os comerciantes, presenciaram comentários preconceituosos a respeito dos povos indígenas.

A partir dessa pesquisa e das discussões durante a disciplina “Produção e sustentabilidade” do curso, os AGAMIN elaboraram o projeto “Feira de Vendas na cidade do Oiapoque”, com o objetivo de contribuir para uma maior valorização da produção indígena e evitar que as regras da comercialização sejam estabelecidas pelos atravessadores. Buscando parceiros para concretizar a proposta, na Assembleia de Avaliação e Planejamento dos Povos e Organizações Indígenas do Oiapoque, realizada em fevereiro de 2019, na aldeia Kumarumã, os AGAMIN apresentaram o projeto para a comunidade e instituições presentes, iniciando, assim, o processo de articulação para realização da feira. Desde então, construiu-se uma rede de articulação interinstitucional, envolvendo organizações governamentais (FUNAI, RURAP, ATER Indígena, Prefeitura Municipal de Oiapoque), não-governamentais (Iepé, TNC), e indígenas (CCPIO, Museu Kuahi), até chegar à concretização da I Feira Itinerante de Produtos Indígenas.

Os produtores e instituições parceiras fizeram uma avaliação muito positiva do evento, destacando a importância da continuidade dessa estratégia de comercialização para consolidar a Feira Itinerante de Produtos Indígenas como um espaço de referência no município. Diante do sucesso da primeira edição, os organizadores indígenas e parceiros definiram que a feira ocorrerá mensalmente.

Texto: Rita Lewkowicz

Edição e revisão: Marina Rabello

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