AMIM realiza mais um encontro sobre plantas medicinais entre mulheres indígenas do Oiapoque

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Na região da BR 156, mulheres protagonistas do movimento indígena trocaram saberes sobre cuidados com a saúde e remédios tradicionais

A transmissão de conhecimentos tradicionais sobre plantas medicinais foi o foco de mais um encontro, dessa vez na região da BR 156, entre mulheres das etnias Galibi Kali’na, Galibi Marworno, Karipuna e Palikur, que ocorreu entre os dias 27 e 30 de junho, na aldeia Ahumã, Terra Indígena (TI) Uaçá, no Oiapoque, Amapá. Este foi o segundo de uma série de encontros que serão promovidos pela Associação das Mulheres Indígenas em Mutirão (AMIM) nas cinco regiões das TI’s do Oiapoque, com o principal objetivo de proporcionar a troca de saberes sobre os cuidados com a saúde e remédios tradicionais entre mulheres de diferentes gerações e etnias.

Dessa vez na aldeia Ahumã, região da BR 156, as indígenas do Oiapoque trocaram saberes sobre uso de plantas nos cuidados com a saúde

Troca de conhecimentos para fortalecer o movimento das mulheres indígenas

No encontro da aldeia Ahumã, estiveram presentes mulheres que desempenham papéis relevantes no movimento indígena de Oiapoque. Tratam-se de lideranças, parteiras, professoras, sócias fundadoras e sócias da AMIM, entre elas Bernadete dos Santos, presidente da associação, e as sócias fundadoras Creuza dos Santos, cacica da aldeia Ahumã, e Verônica dos Santos, cacica da aldeia Curipi.

Cacica Verônica dos Santos compartilhou seus saberes com as demais mulheres

Nos dois primeiros dias de oficina, as participantes apresentaram as plantas que trouxeram, explicando como eram cultivadas, se eram “de casa” ou “do mato” e formas de coleta, de preparo e de uso. A professora Edilena dos Santos, da aldeia Manga, trouxe à tona a importância de se fazer um uso sustentável das espécies medicinais, enfatizando a necessidade de se construir hortas e a troca de mudas, para que esse conhecimento seja disseminado entre as mulheres de todas as regiões.

As mulheres apresentaram as plantas que trouxeram apontando se eram “de casa” ou “do mato” e as formas de coleta a preparo

Um fato inusitado permitiu que a troca de conhecimentos fosse além da teoria, e tivesse uma utilidade bastante propícia para o encontro: observando que algumas participantes estavam gripadas, Dona Creuza, cacica da aldeia que sediava o encontro, preparou, ensinando todo o processo para as demais presentes, um xarope utilizando diversas plantas, atitude que acabou se transformando em uma verdadeira aula prática. A cacica explicou, ainda, que além dos xaropes e dos banhos, existem outras formas de preparo de remédios naturais, como infusões, pós e garrafadas. O interesse das mulheres nas diversas técnicas de preparo fez com que um dos encaminhamentos para as próximas oficinas fosse, justamente, aprofundar as discussões em torno das preparações. Sobre os tratamentos de saúde, também foi enfatizada a necessidade de se cumprir os resguardos e restrições alimentares.

Cultivo de plantas medicinais para o fortalecimento cultural

No último dia, as participantes  fizeram uma balanço da oficina. Deolinda Labonté, conselheira fiscal da AMIM, e Cristina Iaparrá, ambas da aldeia Kuahi,  demonstraram motivação para contribuir com a associação e ressaltaram como essa primeira experiência foi importante para elas.

Como encaminhamentos, as participantes concluíram que cada comunidade deveria ter  sua horta de remédios caseiros para estimular a transmissão desses conhecimentos para as futuras gerações. Foi acordado que uma nova oficina será realizada na região da BR 156, ainda no final deste ano, onde se conversará mais sobre as extração de óleos e das técnicas utilizadas como massagens (com e sem caroços) e compressas. E para esta oficina será feita uma cartilha em kheoul com o conteúdo da primeira.  Além disso, constatou-se que outras oficinas sobre a saúde da mulher são necessárias, sobretudo para que elas possam trocar informações entre si.

As participantes concluíram que cada comunidade deveria  ter  sua horta de remédios caseiros para facilitar a transmissão desses conhecimentos para as futuras gerações

Para Renata Lod, coordenadora administrativa da AMIM, momentos como este são importantes porque “a AMIM representa cada mulher dentro de sua aldeia. E quando se fortalece o papel da mulher em sua comunidade, se fortalece o movimento de todas as mulheres indígenas das três TI’s do Oiapoque.”

A atividade foi desenvolvida pela AMIM, com assessoria do Iepé, a partir do projeto “Mulheres em Mutirão semeando a arte do bem viver”, em parceria com a Embaixada da Noruega.

A Associação das Mulheres Indígenas em Mutirão (AMIM) é assessorada pelo Iepé e GESCON, e conta com o apoio da Embaixada da Noruega e da The Nature Conservancy (TNC).

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