Iepé realiza quarta etapa do Curso de Formação de Agentes Socioambientais Indígenas do Oiapoque

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Disciplinas tiveram como foco a capacitação dos estudantes para a realização de pesquisas e para o envolvimento com políticas socioambientais 

Entre os dias 29 de janeiro e 20 de fevereiro, o Iepé realizou, em parceria com a TNC, no Centro de Formação da Terra Indígena Uaçá, a quarta etapa do Curso de Formação de Agentes Socioambientais Indígenas (AGAMIN) do Oiapoque. Nesta etapa, foram ministradas três disciplinas, durante as quais os 40 AGAMINs puderam aprender e discutir sobre diferentes metodologias e técnicas de pesquisa, sobre os conceitos e políticas socioambientais, além de dar continuidade às suas pesquisas acerca da alimentação, caça e pesca nas Terras Indígenas do Oiapoque, e planejar as futuras atividades nas aldeias.

Foto: Eldely Iaparrá

Formação para a pesquisa

A primeira disciplina da etapa, “Sistemas de Conhecimentos”, ministrada pelo antropólogo Augusto Ventura dos Santos, teve o objetivo de fornecer elementos para que os AGAMINs produzam pesquisas a partir das experiências que realizaram. Nesse sentido, foram apresentadas diferentes técnicas que podem ser utilizadas na condução de uma pesquisa, tais como diagramas de parentesco, biografias e autobiografias coletivas. Os estudantes também puderam aprender com as experiências do pesquisador e professor indígena Davi Felisberto dos Santos, que apresentou a pesquisa sobre a pesca entre os povos indígenas do Oiapoque, realizada pela equipe do Museu Kuahi, e o trabalho de pesquisa que resultou no livro “O lago Maruane: conhecimentos tradicionais dos Galibi Marworno“. Estimulando os estudantes, Davi aconselhou: “pesquisador não sabe tudo; ele vai atrás”.

A disciplina promoveu, ainda, discussões sobre o conceito de teoria, com diferentes exercícios de teorização nos quais os alunos foram estimulados a identificar e interpretar problemas a partir da análise de vídeos, textos e músicas. Por fim, elaborou-se um projeto de pesquisa coletiva intitulado “Pesquisa diagnóstico sobre fortalecimento cultural nas aldeias dos povos indígenas do Oiapoque”, que será realizado por cada AGAMIN, em sua comunidade, por meio de um roteiro de entrevista preparado coletivamente.

Já na disciplina “Práticas de manejo sustentável”, ministrada pela bióloga Roselis Mazurek, a proposta foi dar continuidade à pesquisa sobre alimentação, caça e pesca nas Terras Indígenas do Oiapoque com a sistematização das informações levantadas por aldeia e por região, e da elaboração de gráficos. Os resultados preliminares da pesquisa apontam que no período da estação seca (setembro-dezembro), quando foi realizada a coleta de dados, a maior parte da alimentação está relacionada à pesca, e não tanto à caça ou consumo de alimentos industrializados. Dentre as espécies de peixes mais consumidas, destacam-se: tucunaré, piranha, pirarucu e traíra. A pesquisa continuará ao longo do próximo semestre e as análises serão aprofundadas no próximo encontro, comparando os resultados nos diferentes períodos do ano.

Foto: Rita Lewkowicz

Em um encontro para a troca de saberes, os AGAMINs também apresentaram estes resultados, suas atividades nas aldeias e o PGTA das Terras Indígenas do Oiapoque para os estudantes de Licenciatura Intercultural Indígena da UNIFAP, destacando a importância da parceria entre agentes ambientais e professores indígenas para a realização de um trabalho conjunto nas aldeias.

Políticas socioambientais: teoria e prática

Temáticas como o licenciamento ambiental, os impactos de empreendimentos no entorno das terras indígenas, o direito à consulta prévia e a elaboração de protocolos próprios de consulta foram o foco da terceira disciplina da etapa, ministrada pelo antropólogo Igor Scaramuzzi. Além de analisarem diferentes protocolos, os estudantes escreveram contribuições para a minuta de protocolo de consulta dos povos indígenas do Oiapoque, e realizaram diferentes exercícios de leitura, resumo e apresentação, buscando fortalecer sua desenvoltura para realizar reuniões nas aldeias e fora das terras indígenas, articulando as ideias e conceitos trabalhados no curso.

Foto: Rita Lewkowicz

Na última semana da etapa, ocorreram reuniões de planejamento das atividades nas aldeias, apresentações dos trabalhos realizados e uma avaliação do curso de formação.

O Curso de Formação de Agentes Socioambientais Indígenas do Oiapoque, uma conquista dos povos indígenas do Oiapoque na tomada do protagonismo da gestão socioambiental de suas terras, é realizado em parceria pelo Iepé e TNC, no âmbito do projeto “Fortalecimento da Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas na Amazônia como estratégia de controle do desmatamento e de promoção do bem estar das comunidades indígenas”, apoiado pelo Fundo Amazônia (BNDES).

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