Organizações exigem investigação da participação de parlamentares em reunião que resultou na morte de liderança indígena Guarani e Kaiowá

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Em nota pública, organizações indígenas e indigenistas, entre elas o Iepé,  pedem a investigação imediata da participação de fazendeiros e políticos ligados à bancada ruralista do Congresso Nacional na morte de Simião Vilhalva, liderança Guarani e Kaiowá assassinada no município de Antônio João, estado do Mato Grosso do Sul no último sábado (29/08).

A presidente do Sindicato Rural do município, Sra. Roseli Maria Ruiz, os deputados federais Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Tereza Cristina (PSB), além do senador Waldemir Moka (PMDB), estiveram presentes na reunião que incentivou produtores rurais a organizarem o ataque na comunidade indígena.

Na hora do ataque, o deputado federal Luiz Henrique Mandetta chegou a postar nas redes sociais que “NA FRONTEIRA A CHAPA É QUENTE”, tendo apagado todos seus posts após cair por terra a versão que sustentava que Simião Vilhalva Guarani e Kaiowá já estivesse morto horas antes do ataque.

NOTA PÚBLICA PELA INVESTIGAÇÃO DA MORTE DE SIMIÃO VILHALVA

EXIGIMOS A INVESTIGAÇÃO IMEDIATA DA RESPONSABILIDADE DE TODOS OS PRESENTES NA REUNIÃO NO SINDICATO RURAL DO MUNICÍPIO DE ANTÔNIO JOÃO (MS) QUE ORGANIZOU ATAQUE AOS INDÍGENAS GUARANI E KAIOWÁ

 Na manhã do dia 29 de agosto, um grupo de pessoas ligadas a produtores rurais, que disputam na justiça a propriedade da Terra Indígena Nhanderu Marangatu, esteve reunido na sede do Sindicado Rural do município de Antônio João para planejar um ataque à comunidade indígena que ocupa o local visando desalojá-los à força da área.  A área é reconhecida pelo Governo Federal como de ocupação tradicional do povo Guarani e Kaiowá, mas os efeitos da homologação foram suspensos por liminar concedida pelo STF há cerca de dez anos, gerando o impasse que adquire contornos cada vez mais dramáticos.

Após a reunião na sede do Sindicato Rural, mais de 40 veículos chegaram na Terra Indígena   com pessoas armadas e equipadas com coletes à prova de bala. O resultado foi o assassinato do indígena Simião Fernandes Vilhalva, de 24 anos, com um tiro que atingiu seu crânio e saiu pela nuca, de acordo com as primeiras vistorias realizadas pela Polícia Federal.

A reunião de proprietários rurais foi conduzida pela Sra. Roseli Maria Ruiz, presidente do Sindicato, e contou com a presença dos deputados federais Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Tereza Cristina (PSB), além do senador Waldemir Moka (PMDB). O clima da reunião era de plena incitação à violência e foi dali que partiu a ordem de ataque, que foi precedido por uma onda de boatos plantados com a informação falsa de que os Guarani e Kaiowá haviam incendiado propriedades rurais e que invadiriam o município.

Um dos mais ativos na campanha de difamação, o ruralista e ex-deputado federal Pedro Pedrossian Filho, usou premeditadamente imagens de um incêndio ocorrido no dia 24 deste mês na cidade de Capitán Meza, Paraguai, para reforçar a versão mentirosa de que os Guarani e Kaiowá estariam incendiando a região.

No Facebook da advogada Luana Ruiz Silva, filha da presidente do Sindicato, lê-se a seguinte frase, postada às 13h do dia 29/08: “RETOMAMOS A FAZENDA. NO PEITO. NA RAÇA. NO GRITO. O CORPO DE ÍNDIO É CADÁVER DE 20 A 24 HORAS. É CADÁVER ANTIGO UTILIZADO COMO BANDEIRA”.

As vistorias da PF no local, entretanto, encontram sangue no local exato do assassinato, descartando a hipótese de que Vilhalva já tivesse falecido horas antes.

Os comentários dos seguidores da Sra. Ruiz Silva na mensagem acima mostram os efeitos da incitação ao ódio e a confiança na impunidade. Comentário do sr. Daniel Filipe Guiscem: “PELO MENOS MATOU O CABEÇA, O LÍDER, O ATIÇADOR. SE NÃO, FEZ MERDA!!”. Comentário do sr. Danilo Alves Correa Filho: “SENTA O DEDO! SE PRECISAR EM DUAS HORAS ESTOU AÍ. PRA MATAR E PRA MORRER”.

O deputado Mandetta na hora do ataque chegou a postar nas redes sociais que “NA FRONTEIRA A CHAPA É QUENTE”, tendo apagado todos seus posts após cair por terra a versão que sustentava que Simião Vilhalva Guarani e Kaiowá já estivesse morto horas antes do ataque.

As organizações abaixo assinadas exigem que todas as pessoas que participaram da reunião ocorrida no sindicato rural de preparação ao ataque à comunidade Guarani e Kaiowá tenham investigada a sua responsabilidade criminal na morte de Simião Fernandes Vilhalva.

Qualquer um que tenha incitado o ataque armado aos indígenas é responsável pelo disparo que tirou a vida de Vilhalva e tanto as gravações da referida reunião quanto o histórico das manifestações dos presentes nas redes sociais precisam ser objeto de análise pericial.

Não é aceitável que o Estado Democrático de Direito conviva com grupos paramilitares atuando livremente para perseguição de cidadãos brasileiros como se estivéssemos no período colonial e se pudesse declarar guerra aos indígenas, não só os primeiros habitantes desse continente, mas parte integrante da atual nação brasileira.

ASSINAM:

Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)

Associação Brasileira de Antropologia (ABA)

Centro de Trabalho Indigenista (CTI)

Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo (CJP-SP)

Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI-SP)

Conselho Indigenista Missionário (CIMI)

Grupo Tortura Nunca Mais (GTNM-SP)

Índio É Nós

Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB)

Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé)

Instituto Socioambiental (ISA)

Rede de Cooperação Amazônica (RCA)

Uma Gota no Oceano

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