Iepé inicia formação de Agentes Socioambientais Wajãpi

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O Iepé deu início a um programa de formação de agentes socioambientais Wajãpi, no âmbito das ações de gestão territorial e ambiental da Terra Indígena Wajãpi, em parceria com a Funai e TNC e com apoio do Fundo Amazônia (BNDES). Trinta e um jovens Wajãpi foram escolhidos e indicados por suas comunidades para integrarem essa primeira turma.

Com uma previsão de duração de quatro anos, esta proposta de formação de agentes socioambientais está sendo discutida com a Secretaria de Educação e com a Secretaria Especial dos Povos Indígenas do Estado do Amapá para ser reconhecida como Ensino Médio Profissionalizante. Ela será composta, assim, por uma parte dedicada as disciplinas da Base Nacional Comum e outra dedicada à formação profissionalizante e específica, que incluí cursos presenciais, atividades de estágio, pesquisas e práticas de intervenção local.

Espera-se que os agentes socioambientais estejam capacitados para auxiliar a gestão socioambiental da Terra Indígena Wajãpi e possam contribuir para o enfrentamento dos desafios atuais, por meio do fortalecimento das formas de organização social, dos conhecimentos e práticas Wajãpi. O curso pretende promover discussões e criar estratégias para garantir a qualidade de vida sustentável na terra demarcada.

1º. Módulo

A abertura do curso, no Centro de Formação e Documentação Wajãpi, foi realizada em julho de 2015. A antropóloga Dominique Gallois (USP) ministrou a disciplina “Sistemas de Conhecimento”, que teve como principal objetivo discutir os desafios da comparação de conhecimentos, trabalhados a partir de exemplos do cotidiano dos Wajãpi, abordando diferentes perspectivas a respeito da “natureza”, do “meio ambiente”. Ademais, se debateu diversos modos de conhecer e de aprender e as formas de sistematização dos conhecimentos tradicionais, dando inicio também as discussões sobre metodologias de pesquisa.

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A segunda disciplina deste módulo, foi “Instrumentos de Gestão e Monitoramento Territorial”, sob responsabilidade do geógrafo Thomas Gallois, que teve como objetivo fazer uma introdução a cartografia, a partir da leitura de coordenadas sobre mapa em papel, o manuseio de GPS e plotagem de pontos.

2º. Módulo

No segundo módulo, realizado entre os dias 22 de novembro a 09 de dezembro de 2015, foram ministradas quatro disciplinas: “Modelos de Desenvolvimento e Terras Indígenas”, “Produção e Sustentabilidade, “Práticas de Manejo Sustentáveis” e “Práticas e Conhecimentos sobre Agricultura e Alimentação”. Todas essas disciplinas integram a proposta político pedagógica do curso de formação. A primeira disciplina, ministrada pelo antropólogo Luis Roberto de Paula (UFABC), teve como principal objetivo tratar temas relacionados à colonização do Brasil e da região amazônica, bem como, as relações historicamente estabelecidas entre os povos indígenas e o Estado Brasileiro, visando subsidiar uma discussão sobre modelos de desenvolvimento.

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A segunda disciplina, regida pelo historiador Felipe Garcia, discutiu diferentes sistemas de produção e temas vinculados à economia, como troca, reciprocidade, circulação de produtos, relações comerciais, etc., a partir de comparações entre os sistemas Wajãpi e o sistema capitalista. As duas últimas disciplinas ficaram sob responsabilidade do engenheiro florestal Marcus Schimidt (Topé) e da antropóloga Joana Cabral de Oliveira, que trabalharam os sistemas agrícolas Wajãpi a partir do levantamento de alguns problemas que são enfrentados na terra indígena, como a falta de lugares bons para fazer roça em áreas de ocupação mais antiga. Desta forma, buscou-se subsidiar algumas discussões sobre o manejo das capoeiras, debatendo possíveis experimentos a serem realizadas nessas regiões.

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Na avaliação da disciplina de Produção e Sustentabilidade, Jawaruwa Wajãpi destacou: “esse tema é muito importante. Isso me fez pensar muito na terra dos Wajãpi, nas nossas práticas, língua e como estamos nos relacionando com as políticas. Nós temos que conhecer o mundo lá fora, mas não para acabar com o nosso modo de vida, mas sim, para sabermos defender nossos direitos. Realmente, existe desigualdade grande no nosso país. (….). Estudamos como as grandes empresas estão afetando ou vão afetar ainda mais as terras indígenas. Isso é muito triste. Estudamos sobre o mercado internacional, soja, milho, cana e sobre a cadeia produtiva dos karai kõ e das comunidades indígenas e fizemos comparações. Nós também temos cadeia produtiva, é muito importante para nós conhecermos isso. Gostei muito desse curso, espero que essa disciplina continue para traduzirmos para a nossa língua e podermos também, usarmos nas nossas escolas”.  

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